20 abril 2007

150 anos de O LIVRO DOS ESPÍRITOS

Em poucas palavras...

Existirá uma vida após a morte?

Será que os que se foram podem de onde se encontram entrar em contato conosco?

Muitas pessoas afirmam conseguir perceber a presença de entes que partiram. Algumas trazem a prova da sobrevivência da alma após a morte, estabelecendo uma comunicação com os que já deixaram a vida biológica e se encontram na outra dimensão, a que denominamos dimensão espiritual.
Estas pessoas que tem a capacidade de, em diversos graus, perceber os espíritos e até comunicar-se com eles são denominadas “médiuns” e possuem uma faculdade chamada “mediunidade”.
O espiritismo estuda em profundidade os depoimentos dos médiuns e conclui assim, a existência de uma vida após a morte. Mas ele se interessa também pela essência das comunicações obtidas através da interação dos espíritos com os médiuns: O que nos dizem os espíritos? Quais são suas novas condições de vida? Que tipo de relação têm eles conosco? As respostas propostas pelo espiritismo representam o fruto da observação cuidadosa e da comparação entre as inúmeras comunicações obtidas, pois nenhuma conclusão pode ser extraída de um depoimento isolado. Como afirmava Allan Kardec, o maior pensador do Espiritismo: “Fé inabalável só é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade”.
Deste modo, à medida que ia recebendo respostas, o espiritismo acumulou ensinamentos gerais de ordem filosófica sobre o universo que nos cerca, o sentido da vida e a natureza do homem.
Em resumo, o espiritismo se fundamenta nos diversos fenômenos ligados à mediunidade, na possibilidade de comunicação com os espíritos, nos testemunhos destes últimos e no aprendizado daí resultante.

História
O início dos fenômenos mediúnicos, ou seja, da comunicação entre os dois mundos, não pode ser determinado, dado que se trata de fenômenos naturais inerentes à condição humana, observáveis de resto nas mais diversas culturas e tradições, em todas as épocas da humanidade.
Contudo, no decorrer do século XIX, os fenômenos mediúnicos se popularizaram à partir das manifestações em Hydesville, nos Estados Unidos, onde duas irmãs se tornaram conhecidas por terem estabelecido comunicação com um espírito em sua própria casa, o qual se manifestava por meio de pancadas. Pessoas vieram de todos os lugares para verificarem o fenômeno. Muitos tiveram então a iniciativa de entrar em comunicação com os espíritos participando de reuniões com essa finalidade. Daí resultou um verdadeiro deslumbramento da alta sociedade da época pelas "noites mediúnicas".
Nestas sessões, os participantes tentavam comunicar-se com os espíritos utilizando pranchetas e um alfabeto, técnica rudimentar de comunicação que necessita naturalmente a presença de um médium. Iniciou-se então a moda das "mesas girantes" por constatar-se que a mesa ao redor da qual estavam sentados os participantes erguia-se muitas vezes, pondo-se a girar, e certas vezes a bater no chão: manifestação física produzida por espíritos. A constatação da presença de um interlocutor, invisível e inteligente, com o qual se podia discutir assuntos variados, despertou a curiosidade geral tanto nos Estados Unidos quanto na Europa.
Hipólito Léon Denizard Rivail (1804-1869), um pedagogo francês, professor e autor, antigo aluno da escola de Henri Pestalozzi em Yverdon, fundador de uma escola em Paris (Instituto tecnico Rivail), ficou intrigado com estes acontecimentos tão comuns à época, sobretudo em Paris onde residia. Homem de ciências por sua formação, homem experiente, dedicou grande interesse às "mesas girantes" mantendo uma rigorosa atitude científica.
Com base em numerosas observações e experiências, Rivail decide organizar uma síntese precisa e completa de suas constatações. Redigiu várias obras sobre o assunto sob o pseudônimo de Allan Kardec. A primeira delas, e a mais notável, chama-se: "O livro dos Espíritos" cuja primeira edição surge em 1857 e engloba 1019 perguntas dirigidas aos espíritos, que as responderam com o concurso de numerosos médiuns. Perguntas estas que abrangeram assuntos como: “a imortalidade da alma, a natureza dos Espíritos e suas relações com os homens, as leis morais, a vida presente, a vida futura e o porvir da humanidade”, como indica o subtítulo da obra. Importante ressaltar que Kardec comparava e verificava o valor de cada resposta pelo intermédio de vários médiums.
Para diferenciá-lo do espiritualismo corrente, Rivail decidiu designar este conjunto de conhecimentos pelo nome Espiritismo, sendo seus adeptos conhecidos como espíritas.
Kardec afirma que "o Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, da origem e do destino dos espíritos, bem como da sua relação com o mundo físico".
Desde então, os espíritas consideram as obras de Allan Kardec como sendo a base fundamental do Espiritismo, tanto quanto um instrumento de avaliação único das inúmeras contribuições ulteriores que complementam sem cessar este conjunto de conhecimentos.
Dentre os movimentos marcantes da história do espiritismo, destacamos a grande amplitude do movimento espírita na França até o início do século XX, seguido de outro movimento no Brasil, que atravessou todo o século XX estendendo-se ao século XXI. É assim que veio à luz uma literatura abundante, ora escrita por aqueles que estudaram o espiritismo, ora escrita pelos médiums, que nos transmitem obras inteiras ditadas pelos espíritos. Entre esses médiums, Francisco Cândido Xavier foi o mais importante, escrevendo mais de 400 obras, ditadas por centenas de espíritos diferentes.

O Espiritismo hoje
O Brasil conta hoje com mais de 20 milhões de adeptos e cerca de dez mil centros de estudos, o que o torna o país mais "espírita" do mundo. Existe também o Conselho Espírita Internacional que reúne as uniões de 28 países, sendo que a Suíça o integra desde 1998.
Esta vastidão de informações e estudos sérios, bem como a sua prática, constituem o chamado Espiritismo. Este evolui permanentemente, acrescentando aos seus fundamentos as contribuições de novas descobertas e investigações pluridisciplinares feitas no mundo inteiro. Por isto ele requer daquele que deseja descobrir sua extensão e riqueza, um estudo paciente e profundo. Hoje, os centros de estudo espíritas já não têm mais como objetivo demonstrar a sobrevivência do espírito, visto ser abundante a literatura que faz referência a estudos e observações voltados para este objetivo. Sua finalidade situa-se antes no estudo teórico do espiritismo e na sua aplicação útil, segundo o princípio da caridade ao próximo. (vide o documento “Prática do Espiritismo na Suíça”).

Filosofia e ética espírita
Não nos estenderemos aqui sobre a vasta filosofia espírita proveniente dos espíritos. Propomos aqui simplesmente alguns princípios.
À pergunta “Que é Deus?”, os espíritos respondem “Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas” (O Livro dos Espíritos, pergunta 1). Todos os espíritos proclamam a existencia de Deus, negando assim a idéia que todas as coisas seriam o fruto do acaso.
Além dessa primeira afirmativa, respondem às nossas perguntas a respeito do homem, da sua origem, do seu destino. Depois de ter-nos dado o testemunho da sobrevivência da alma à morte biológica, eles nos falam da evolução dessa alma ou espírito, que segue incessantemente rumo às qualidades mais elevadas do Amor e da perfeição. Tal é o seu destino. Mas por quais meios? A resposta é pela reencarnação, filosofia segundo a qual o espírito imortal pode reencarnar em um novo corpo físico tantas vezes quantas se fizerem necessárias na senda da sua evolução.
Em face desta vasta perspectiva, conclui-se que é no presente que se encontram as nossas oportunidades. Por sermos sempre detentores do livre-arbítrio, determinamos pelas nossas escolhas de hoje o nosso futuro (lei de causa e efeito). Por outra parte, o contexto de nossa vida atual é o fruto do nosso passado e também a nossa oportunidade de aprendizado e de progresso para um futuro melhor. Cabe-nos, portanto, procurar os bens do espírito, os valores espirituais, que sobrevivem e nos acompanham onde nosso espírito estiver se tornando aquisição definitiva deste. É certo que a evolução completa não se faz somente no planeta Terra, mas também em outros planetas do universo onde uma vida inteligente se desenvolveu.
Quanto à interação entre o nosso mundo material e o mundo dos espíritos, ou melhor, entre o mundo dos espíritos encarnados e o dos espíritos desencarnados, ela é constante. Com efeito, os dois mundos coabitam dentro de uma mesma realidade universal e interagem de maneira continua, sem que a maioria de nós tenha consciência disto.
Além do seu aspecto filosófico, os testemunhos dos espíritos convidam-nos sempre à introspecção, ao encontro com a nossa consciência onde estão inscritos o senso do bem e da justiça. Recordam-nos que a via da evolução é a da melhoria moral. Sem julgar as tradições religiosas, propõem-nos seguir o ensinamento de Jesus: "ama ao teu próximo como a ti mesmo". Este axioma resume segundo os espíritos a essência da moral divina e deve guiar-nos para a verdadeira felicidade espiritual, e guiar a humanidade para a união solidária de todos os povos, independente da cultura, da origem, do grupo social ou da crença dos seres humanos que a compõem. O espiritismo procura assim contribuir para o estabelecimento de uma ética universal que leve em conta o bem individual e o coletivo. Quanto às referências freqüentes feitas à Jesus na prática espírita, elas decorrem do que dizem os espíritos a seu respeito. No Livro dos Espiritos, a pergunta “Qual o indivíduo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem, para lhe servir de guia e modelo?”, os espíritos responderam: “Vejam Jesus”. Para muitos, ele é considerado como sendo o espírito mais perfeito que encarnou na Terra e persiste sendo um guia e protetor de toda a humanidade. Vale ressaltar o fato de que os grandes espíritos colaboram para o bem de todos, não se importando com as diferenças e separações que conhecemos sobre a Terra. Podemos assim concluir que o espiritismo se situa por um lado numa continuidade da tradição judaico-cristã, e de outro, nos princípios que tocam qualquer ser humano. No espiritismo não há imposições, dogmas ou rituais, sendo os princípios apresentados e discutidos para poderem ser aceitos livremente por todos os que se interessarem.

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